COVID-19 é uma doença respiratória aguda causada pelo vírus SARS-CoV-2 (identificado pela primeira vez em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China). Até ao mês de Agosto de 2021 foram identificados mais de 200 milhões de casos mundialmente. O quadro clínico da doença pode subdividir-se em diferentes níveis de gravidade:
- Ligeiro, tipo síndrome gripal (80%)
- Grave, pneumonia que exige internamento (15%)
- Muito grave, internamento em Cuidados Intensivos (5%)
Ou seja, cerca de 1 em cada 6 pessoas infetadas desenvolve um estadio de doença grave e/ou muito grave, com dificuldade respiratória associada.
Transmissão Covid-19 (segundo OMS)
O vírus é transmissível a partir de indivíduos que estejam infetados, através de pequenas gotículas provenientes da sua via aérea superior (nasal e oral) propagando-se maioritariamente quando a pessoa infetada com COVID-19 tosse ou espirra. No entanto, o meio de transmissão está associado simplesmente ao ar exalado pela pessoa infectada (ex.: falar, comer, cantar, prática de exercício…). O seu grau de transmissibilidade é proporcional ao tempo e proximidade de exposição ao factor de risco, a ventilação do meio ambiente, etc. As gotículas podem ser transmitidas directamente de pessoa para pessoa, ou indiretamente através das superfícies/objetos (quando os indivíduos tocam nos olhos, nariz e/ou boca após contactar com essas superfícies/objetos infetados).
Como evitar:
- A utilização de máscaras certificadas reduz significativamente o grau de transmissibilidade entre indivíduos.
- Lavar frequentemente as mãos com sabão e secá-las em seguida (Em alternativa também podem ser usadas soluções antissépticas de base alcoólica (SABA).
- Manter a etiqueta respiratória (Cobrir boca e nariz com o cotovelo/lenço enquanto espirra ou tosse).
- Evite tocar os olhos, nariz e boca.
- Mantenha o distanciamento físico. Evite espaços lotados e mantenha pelo menos 1 metro de distância de outras pessoas.
- Limpe e desinfete frequentemente as superfícies (mesas, bancadas, maçanetas, interruptores de luz, telefones fixos, teclados, casas de banho, torneiras e lavatórios).
Grupos de Risco (DGS):
- Pessoas com idade avançada (65 anos ou mais);
- Pessoas com doenças crónicas como:
- doença cardíaca (ex.: insuficiência cardíaca);
- doença pulmonar (ex.: asma, DPOC, fibrose quística);
- doença oncológica;
- hipertensão arterial;
- diabetes;
- entre outros (doença renal crónica, doença hepática crónica, doenças esplénicas, fumadores, obesidade mórbida).
- Pessoas com sistema imunitário comprometido, tais como:
- em tratamentos de quimioterapia;
- em tratamentos para doenças autoimunes (artrite reumatoide, lúpus, esclerose múltipla ou algumas doenças inflamatórias do intestino);
- infetados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV);
- transplantados.
Sintomas mais comuns:
Atualmente sabemos tratar-se de uma infeção respiratória aguda – ARDS, mas com manifestações multissistémicas (a nível cardiovascular, pulmonar, renal, muscular, tegumentar, imunológico e SNC), independentemente do grau de severidade e da necessidade de internamento.
Os sintomas mais frequentes transversais à infeção são:
- Febre (85-90%)
- Tosse seca (65-70%)
- Dificuldade respiratória - Dispneia (15-20%)
- Mialgias (10-15%)
- Diarreia/Cefaleias (10-15%)
- Cansaço (35-40%)
- Anosmia (ausência de olfato)
- Ageusia (ausência de paladar)
No idoso os sintomas e sinais podem ser inespecíficos (transversais à condição clínica presente): confusão, alterações de equilíbrio, dores abdominais, incontinência urinária, descompensação de patologias associadas, com maior número de casos apiréticos (sem febre).
O período sintomático (geralmente entre 2 a 12 semanas) varia consoante a idade do doente, a gravidade da doença e as comorbilidades associadas. Importa salientar que a fase ativa da doença termina ao fim deste tempo, no entanto a pessoa pode não estar totalmente recuperada e apresentar sequelas pós-infeção. Estas sequelas podem traduzir-se em sintomas residuais, disfunções sistémicas (ou novos sintomas/síndromes) que podem persistir no tempo associando uma diminuição da autonomia e funcionalidade. Esta condição, denominada Long COVID ou Síndrome Pós-COVID, afeta pessoas de todas as idades com e sem outro tipo de patologias associadas.
Estudos recentes demonstraram que após 7 meses da doença, mais de metade dos participantes referiram não se sentir totalmente recuperados, justificando-se por estes sintomas poderem ser flutuantes e alteráveis, persistindo no tempo.
A intervenção precoce através de um programa de fisioterapia especializado e centrado nas necessidades individuais da pessoa é essencial para mitigar e/ou minimizar as sequelas funcionais.
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico (ONS, 2021), as pessoas com Síndrome Pós COVID-19: 65,9% apresenta limitação das suas atividades de vida diárias; 71% referem que afeta as relações familiares e sociais; 39% refere uma diminuição da sua independência e autonomia funcional.
Principais sequelas da infeção por SARS-CoV 2 – Long COVID ou Síndrome Pós-COVID
À semelhança dos sintomas da doença, também as sequelas são multissistémicas, podendo variar consoante o histórico clínico do doente.
- Sintomas físicos
- cansaço e/ou dispneia,
- dificuldade respiratória em repouso e/ou em esforço e durante a prática de exercício físico
- atrofia muscular (diminuição da força muscular, da coordenação neuromotora, equilíbrio e alterações na capacidade de marcha)
- dor física (musculo esquelética)
- limitação física e/ou psicológica na execução das suas tarefas da vida diária
- diminuição da condição física
- palpitações,
- toracalgia,
- cefaleias,
- sudorese,
- náuseas,
- tremor,
- insónia.
- Sintomas neuropsiquiátricos
- diminuição das capacidades cognitivas (“névoa cerebral”, perturbações da memória e alterações do sono que são consistentes com défice de concentração),
- dificuldade de realizar funções executivas (planear, organizar, perceber a sequência de ações, pensamento abstrato),
- lentificação de pensamento no dia-a-dia,
- problemas de discurso e de linguagem.
- dor psicológica e dor espiritual;
- sentimento de frustração por perda de capacidades que podem levar à depressão e ao isolamento social e distúrbios psicológicos, como o stress pós traumático e ansiedade.
- Sintomas psicossociais
- Os doentes também podem desenvolver ansiedade, depressão, distúrbios de sono e stress pós traumático, que afetam a sua componente social, ocupacional e até outras funções básicas do indivíduo como a execução das suas tarefas do dia-a-dia. Os doentes descrevem estes sintomas como limitantes e referem que afetam seriamente o desenvolvimento normal da sua atividade laboral.
Esquema dos principais sintomas após 4 e 12 semanas de alta clínica
Fig 1- Jimeno-Almazán, A., et al (2021) Post-COVID-19 Syndrome and the Potential Benefits of Exercise, International Journal of Environmental Research and Public Health, 17 May 2021
Intervenção no Long COVID ou Síndrome Pós-COVID
A evolução da doença poder ter uma recuperação espontânea em muitos casos, sem necessidade de internamento hospitalar, mas é importante avaliar possíveis sequelas associadas à infeção, requerendo uma continuidade de reavaliações e tratamentos por parte de equipas multidisciplinares para uma abordagem holística da pessoa. Em caso de permanência de sintomas sistémicos a abordagem terapêutica deve centrar-se no controlo sintomático e numa reabilitação física e mental (inclui controlo de fadiga, treino respiratório e suporte psicológico/psiquiátrico).
Benefícios do Exercício Físico terapêutico
A evidência científica tem demonstrado que uma prática regular de exercício produz efeitos a curto, médio e longo prazo. Estes benefícios previnem, retardam, mitigam e revertem diversas doenças do foro metabólico, pulmonar, cardiovascular, neurocognitivo, inflamatório, reumático e músculo-esquelético.
O exercício cardiorrespiratório mostrou probabilidade de reduzir os internamentos por COVID-19 e, por sua vez, pressupõe-se que um programa de exercício específico será benéfico para indivíduos com sintomas de COVID-19. Um plano de exercícios terapêuticos personalizado e centrado nas necessidades individuais será promissor e uma das terapias essenciais para controlar os sintomas, facilitando uma recuperação mais rápida e ativa, aumentando a sua autonomia, funcionalidade e qualidade de vida.
- O exercício é benéfico para o sistema imunológico
A prática regular de exercício físico moderado a alto, reduz o risco de contrair doenças/infeções adquiridas na comunidade e da sua mortalidade. A prescrição de exercício individualizado em doentes COVID-19 é essencial para produzir alterações positivas na função imunitária.
- O exercício auxilia a controlar e a mitigar os sintomas físicos
Um plano de exercícios adequado é uma estratégia para um controlo de doenças reumáticas, músculo-esqueléticas, dor crónica, fraqueza muscular, limitações físicas, fadiga e baixa tolerância ao esforço.
- O exercício é um tratamento para as complicações pulmonares
Um programa de reabilitação pós-internamento melhora a função respiratória, a qualidade de vida, a mobilidade e a função psicológica em idosos com COVID-19.
- O exercício melhora a saúde cardiovascular
Programas de reabilitação adequados após doença cardíaca levam a melhorias na taxa de mortalidade, no desempenho cardiovascular, na funcionalidade e redução nas readmissões hospitalares.
- O exercício estimula a neuroplasticidade cerebral e aumenta o bem-estar psicológico
O exercício é uma ferramenta útil para melhorar o humor, a depressão, ansiedade, reduz o stress psicológico e modela a perceção de dor.
- O papel de metodologias avançadas de treino para a saúde
Um plano de intervenção e objetivos individualizados, com uma diversidade de exercícios, estímulos e intensidades, controlados e monitorizados tem benefícios na melhoria dos outcomes clínicos e na gestão sintomática da síndrome.
Devido à natureza multissistémica da síndrome pós-COVID, há necessidade de fazer uma avaliação e intervenção sistemática e multifatorial das capacidades físicas e funcionais na prescrição de exercícios. Apesar de estarmos perante uma doença relativamente recente, existe evidência de que planos de exercícios terapêuticos corretamente prescritos e bem tolerados pelos doentes são uma terapia benéfica e fundamental no controlo sintomático, abrangendo as suas muitas variedades e especificidades e os seus sintomas. Uma abordagem multidisciplinar e integrativa é essencial, bem como avaliar o impacto social da síndrome.
Papel da Fisioterapia na aplicação de planos de intervenção pós-COVID
A Fisioterapia tem um papel fundamental na gestão do controlo sintomático e na promoção da autonomia e melhoria da qualidade de vida da pessoa, através de técnicas e estratégias especializadas e devidamente qualificadas.
Um programa de exercícios terapêuticos personalizados e centrados nas necessidades individuais, após uma rigorosa Avaliação Clínica pelo Médico Fisiatra tem benefícios a nível do sistema imunológico, no controlo/mitigação dos sintomas físicos, na melhoria da função respiratória, na melhoria da saúde cardiovascular, na estimulação da neuroplasticidade fundamental para a execução neuromotora e no bem-estar físico e psicológico.
A avaliação da Fisioterapia permite:
- Elaborar um plano de intervenção individualizado e equitativo com o objetivo da otimização funcional;
- Promover uma participação ativa da pessoa na gestão do plano de intervenção, diminuindo o impacto do Long COVID na qualidade de vida.
- Monitorizar e reavaliar periodicamente o plano de intervenção tendo em conta a sua evolução
- Ensino de estratégias de auto gestão das necessidades da pessoa no seu contexto social ou ao seu cuidador
(Filipa Tarifa e Gonçalo Ribeiros, Fisioterapeutas, Irmãs Hospitaleiras - Casa de Saúde da Idanha)